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Matança do atirador do Realengo foi um ritual religioso


O massacre dos meninos no Rio de Janeiro foi um massacre religioso, como a matança dos inocentes de Herodes. O assassino foi o anjo da morte de um Deus louco. A sua carta mostra isso.

Na carta, ele fala de pureza e impureza, virgindade e adultério, sangue intocável por fornicadores e seu enterro de filho virgem ao lado da mãe santa, de onde Jesus o despertará

O seu ritual de sepultamento é místico. Ele fala que quer ser banhado e envolvido nu em um lençol branco e puro, como Cristo.

Espantosamente, vemos na carta que ele massacrou em busca de perdão e para punir, matando meninas, principalmente, talvez pecadoras no futuro, na cabeça dele. 

Na história, a ideia de Deus foi essencial para nomear o inconsciente da humanidade e saciar o nosso desejo de eternidade. Sem a ideia de Deus, a civilização seria impossível. Só que, com a falência da felicidade e da esperança no mundo incompreensível de hoje, Deus pode deixar de ser uma fonte de consolo e se transformar em um agente do terror.

Reaparece o mesmo Deus que queimou milhares de feiticeiras na Idade Média. O Deus do Irã que apedreja mulheres. O Deus que arma os homens-bombas em nome de Alá. O Deus que jogou os aviões contra Nova Iorque. 

Nos tempos trágicos de hoje, surgiu o Deus da morte. E a dor terrível que sentimos com esse crime é de abandono. 

O ato desse assassino nos faz sentir que estamos sozinhos e que Deus está ausente.


Arnaldo Jabor para a CBN / Blog do Lucas
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