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Autor da bíblia laica diz não ser contra a religião: 'Eu apenas a ignoro'

Título original: Bíblia laica traz evangelho de filósofos
A. C. Grayling se diz a versão suave de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, dois ateus que militam contra Deus nos livros e na imprensa. Sua nova obra, como explica, não é "contra a religião". Apenas a ignora.

The Good Book: A Humanist Bible (o livro bom: uma bíblia humanista, na tradução literal) quer ser fonte de inspiração, reflexão e consolo, partindo da tradição laica do Ocidente e do Oriente.

"Ao se fixar em Deus e no que há após a morte, pessoas se distraem da vida", diz à Folha. Ninguém cai em desgraça se come o fruto da sabedoria, sugere o professor de filosofia da Universidade de Londres, autor de quase 30 livros. 

Por décadas, anotou o que disse Aristóteles, Heródoto, Safo, Nietzsche, Baudelaire, Rimbaud, Newton e editou as citações com estrutura e linguagem semelhantes às da Bíblia.

Publicado há duas semanas na Inglaterra, o livro está na lista de mais vendidos. Foi comprado pela Objetiva/Alfaguara e sai em 2012. Com bom humor, Grayling conta que sua mulher fez para ele um cartão que diz: "Achava que era ateu até que descobri que era Deus".

Folha - Com a bíblia laica, o sr. diz ajudar leitores a ter uma vida boa. O que é isso?

A. C. Grayling - Ser bom e ter afetos costumam levá-lo a ter uma vida melhor. Diferentemente da Bíblia, porém, este livro mostra que não há modo único de conduzir a vida, que é muito curta para tantas brigas. O mais importante é que o leitor pense por si mesmo e não tenha de seguir regras irracionalmente. 

"Tudo de que você precisa é amor", "Pense por si mesmo" e "a vida é muito curta para tantas brigas" são letras dos Beatles. 

Não tinha pensado nisso. É a prova de que essa sabedoria pode ser encontrada também no senso comum.


Em oposição à Bíblia, o livro sugere retornar aos gregos? 

Não só aos gregos, mas à tradição humanista que começa com eles e permanece até hoje. E, apesar de ateu, não quis me opor à Bíblia, apenas mostrar a sabedoria que nasce dos próprios homens sem tratar de Deus ou de vida após a morte. 

Se não se opõe, por que se baseou na estrutura da Bíblia? 

Primeiro porque o livro se torna muito acessível: você pode ler um ou dois trechos e pensar a respeito. E sem autores citados, você se concentra no que é dito, e não em quem e quando disse.

É inevitável querer saber de quem é cada citação... 

Várias pessoas reclamam disso. Mas é como ver uma exposição e se concentrar nas legendas. O mais importante são as pinturas. E quer saber? Queria não ser identificado como autor do livro. Meus editores não deixaram.

Por que a religião voltou a ser tema de livros e da mídia? 

Justamente por causa do seu declínio. 

Paulopes 
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